RESIDÊNCIA JOSÉ BARBOSA MAIA
Tertuliano Dionísio, 1964.
DIMENSÃO NORMATIVA
Apesar de sua proximidade (aproximadamente 200m) com a área estabelecida pelo decreto estadual n° 33.816/ 2013 (de normativas técnicas para áreas sob proteção estadual/ IPHAEP), onde foram delimitadas áreas adicionais de amortecimento ao perímetro legal do centro histórico (Lei Municipal n° 3721/1999 – Zona Especial de Preservação I). A residência ainda não está inserida em nenhum cinturão de proteção legal seja em nível municipal, estadual ou federal.
DIMENSÃO HISTÓRICA
Nos anos de 1960, o contexto da cidade de Campina Grande era de modernização e apropriação da classe dominante, época em que o arquiteto Tertuliano Dionísio viajara muito para a cidade paraibana por motivos profissionais, e partir disso, teve a oportunidade de conhecer o bancário José Barbosa Maia, que mais tarde seria o proprietário da residência.
O registro de deliberação para construção da residência foi emitido pelo Departamento de Planejamento e Urbanismo/ DPU, da Prefeitura Municipal de Campina Grande, no dia 01 de agosto de 1962, tendo a conclusão de sua construção em 1964.

DIMENSÃO TECTÔNICA
A superestrutura da residência José Barbosa Maia é solucionada através do sistema estrutural de vigas e pilares em concreto armado, apoiados sob pilotis e muros de arrimos em pedra no pavimento inferior. A laje de conexão entre os pavimentos é reforçada do tipo (bandeja em concreto com 45cm), possibilitando a criação de um terraço social aberto para o exterior da residência. A cobertura dos volumes principais são do tipo telhado em quatro águas, arrematados por uma platibanda em alvenaria de tijolo.
A materialidade das peles ou invólucros da residência são diversificados entre a madeira, a pedra bruta, o concreto, o vidro e diversas peças de azulejos. As vedações acompanham o alinhamento dos planos, ora em tipo fita, ora em painéis de correr; essa estratégia associada ao uso do cobogó nas áreas de circulação, garantem a permeabilidade visual com o exterior da residência, bem como, aproveitamento do conforto climático em todos as zonas.
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DIMENSÃO ESPACIAL
A inserção da obra é marcada por um entorno urbano majoritariamente residencial, apesar de sua circunvizinhança ao bairro comercial do centro da cidade. Implantada no perímetro de um lote de esquina com a Avenida Canal e Agamenon Magalhães, apresenta uma área de 824 m² - sendo 330 m² de área construída.
A proposta de implantação da residência tira partido do desnível topográfico do terreno que condicionou a distribuição do programa em dois níveis de acessos para ambas avenidas.
Quanto à distribuição dos espaços internos, percebe-se uma certa atenção para a distribuição dos cômodos por zonas ou setores. Para esta residência são agrupados em: zona íntima, zona social e zona de serviços; que influenciou diretamente na volumetria em blocos individuais, no entanto, ambas apresentam uma articulação entre si através de um eixo de circulação.

DIMENSÃO FORMAL
A volumetria é composta pela junção de dois primas retangulares dominantes, que correspondem respectivamente aos núcleos íntimo e social, interligados por um volume intermediário de menor proporção. As caixas volumétricas apoiam-se sobre um terraço social vazado e sustentado por muros de arrimos, que concedem acesso à uma garagem no nível inferior do desnível do terreno.
Na concepção da forma, herda os critérios clássicos da modernidade arquitetônica ao propor uma arquitetura de linguagem simples e desprovida de adornos estilísticos, materiais sintéticos e sobreposições estéticas atemporais.
Algumas características intrínsecas a esse projeto, tais como: vazamento de muros, espaços contínuos, criação de sombras, convívio com o externo, entre outros (HOLANDA, 1976); reforçam a influência recebida por Tertuliano Dionísio na Escola do Recife, através da proposição de uma arquitetura adepta aos trópicos
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DIMENSÃO FUNCIONAL
Quanto a análise de usos da obra, atualmente, a mesma mantêm seu uso original proposto em projeto – residencial. Quanto a ordem de propriedade da residência, manteve-se sob as responsabilidades de descendentes do mesmo núcleo familiar do Sr. José Barbosa Maia, até os dias atuais. O que contribuiu na preservação física de artefatos, objetos, mobiliários, concebidos originalmente no projeto, além de manter ativa a memória afetiva com o lugar.
Em resgate aos esboços de estudo de Tertuliano Dionísio para o projeto da residência, identificou- -se uma primeira proposta para a casa que diferia o acesso principal, através de uma escada em pedras engastadas no próprio muro de arrimo; bem como, um maior prolongamento na profundidade do volume que abriga o setor social, e consequentemente uma maior área para o terraço social e acesso independente de veículos para a garagem.
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DIMENSÃO DA CONSERVAÇÃO
A discussão sobre a conservação da obra será pautada nas intervenções pós-ocupação da residência, que ao longo dos últimos anos, foram necessárias a fim de corrigir as problemáticas provenientes de entraves nas etapas de projeto e execução.
Frisando que a integridade dos elementos arquitetônicos foi preservada na contemporaneidade, portanto, sem a prévia necessidade um estudo patológico específico para essa discussão.
As paredes laterais externas das varandas por estarem expostas as intempéries de forma direta e constante acabaram por desenvolver problemas de mofos e infiltrações, com isso, os moradores optaram por aplicar revestimentos cerâmicos nas superfícies internas, a fim de amenizar a passagem de umidade.
Uma problemática semelhante se deu no arremate de toda a platibanda, por não possuírem rufos de proteção, culminaram em um acelerado processo de umidificação descendente, desencadeando manchas e sujidades entorno dessas superfícies.
As peles de cobogós instaladas no corredor de circulação receberam uma aplicação em tela aramada como bloqueio a entrada de insetos e pequenos animais.
Em relação à materialidade externa, a busca pela redução de custos no canteiro de obras, acarretou na substituição de alguns revestimentos em madeira que seriam previstos para o terraço social, pela aplicação do chapisco sobre reboco, pintado na cor branca.
Em suma, o projeto não encontra-se descaracterizado enquanto exemplar residencial da arquitetura moderna campinense, no entanto, buscou-se a adaptação frente às novas demandas que surgiram nos últimos cinquenta anos.
Pontuando que as normativas atuais de acessibilidade, segurança, incêndio, entre outros, passaram a exigir novas adaptações para essas edificações. Com isso, soma-se a conscientização em intervir de forma correta, preservando a estrutura arquitetônica existente.
REFERÊNCIAS
AFONSO, A. Notas sobre métodos para a pesquisa arquitetônica patrimonial. Revista Projetar - Projeto e Percepção do Ambiente, v. 4, n. 3, p. 54-70, 12 dez. 2019.
BARBOSA, A; SOUZA, A.; SOUZA, S. Residência José Barbosa Maia – Tertuliano Dionísio. In: Inventário moderno de Campina Grande: residências modernas. UFCG/ GRUPAL. 2017. Disponível em: Acesso em: 20 de jun. 2020.
HOLANDA, A. de. Roteiro para construir no nordeste. Arquitetura como lugar ameno nos trópicos ensolarados. Recife: UFPE/ MDU. 1976.
PEREIRA, I. Tertuliano Dionísio: A presença do arquiteto em obras modernas de Campina Grande. 1960-1980. Etapa 01. Campina Grande: UFCG. PIVIC. 2018.