RESIDÊNCIA HELENO SABINO
Geraldino Duda, 1962.
DIMENSÃO NORMATIVA
Assim como a maioria dos bens arquitetônicos modernos residenciais de Campina Grande, a Residência Heleno Sabino de Farias também não possui nenhum tipo de proteção patrimonial. Essa situação é delicada, e exige urgência em documentação para preservação documental de tal obra. Isso evidencia-se, principalmente, pelas constantes demolições e descaracterizações que vem ocorrendo na cidade.
A mesma está localizada na zona de qualificação urbana, de acordo com o plano diretor vigente, na qual caracteriza-se pelos usos múltiplos e existência de infra-estrutura urbana consolidada.
DIMENSÃO HISTÓRICA
Projetada em 1962 pelo campinense Geraldino Duda, na época projetista e funcionário da Prefeitura de Campina Grande, tal obra destaca-se como imagem e exemplar da modernidade local. O projeto foi feito para a família Sabino, formada por comerciante importantes para a história e o desenvolvimento econômico de Campina Grande. Heleno Sabino e seu irmão Pedro Sabino atuavam como comerciantes no ramo do algodão e do sisal, destacando-se a fábrica algodoeira P. Sabino, que localizava-se ao lado da reconhecida fábrica da Caranguejo.
DIMENSÃO ESPACIAL
EXTERNA
Localizada na R. Melo Leitão, Bairro São José, a Res. Heleno Sabino é privilegiada por estar implantada na esquina de um lote curvo, o que possibilita uma ampla visualização. Além disso, possui uma forte relação com a Praça do Trabalho, também projeto de Geraldino Duda.
Nessa praça está inserida a Capela Senhora da Guia, que também possui traços da modernidade, por sua forma circular e pela expressão estrutural e de materialidade, que infelizmente encontra-se parcialmente descaracterizada.
Destaca-se também a proximidade com o Centro da Cidade, principalmente do Parque Evaldo Cruz e do Parque do Povo. Os usos do entorno são predominantemente comerciais, com gabaritos de 1 à 2 pavimento, em média.
INTERNA
O programa foi resolvido em dois pavimentos aproveitando a topografia do terreno. Nesse caso, o pavimento superior abriga os setores social, íntimo e de serviço, e o pavimento inferior, também divide-se nos setores de serviço e íntimo, sendo este último, destinado principalmente como apoio para visitas.
O projeto surge de acordo com o formato do terreno, no qual, o mesmo possui seu maior perímetro curvo. Percebe-se uma forte relação interna/externa, devido aos recuos generosos e que se integram com o interior da residência por meio de subtrações volumétricas, e principalmente, por meio das esquadrias. Geraldino também utilizou de varandas, assim como um jardim interno na sala íntima.
DIMENSÃO TECTÔNICA
O sistema estrutural da residência é composto por vigas, pilares e laje de concreto armado. É possível identificar também muro de arrimo e vigas invertidas. Sua estrutura é classificada como sistemática, observada a partir da sua trama ordenadora. A relação entre a forma e sua estrutura também é perceptível, principalmente quando observa-se a lógica estrutural, que é em parte radial e em outra parte ortogonal. observa-se também a adoção de avanços nas lajes, que possibilitam a criação de marquises e balanços de concreto.
Além disso, também observa-se em sua dimensão tectônica, as esquadrias de ferro e vidro, que criam planos translúcidos e dinâmicos. Também foram utilizados muros de pedra e gradis metálicos que fazem limite do lote, assim como aqueles usados como guarda corpo. Existe uma relação entre os fechamentos e a estrutura, já que em alguns pontos os módulos são fechados por planos de esquadrias, sendo classificados então, como sistemáticos.
A cobertura foi solucionada utilizando telhas de fibrocimento que possui baixo ângulo de inclinação, e que melhor se adaptaria a forma da edificação. O Fechamento da coberta é feito por platibanda tornando o sistema de coberta implícita. Porém sua forma é expressa por meio de beirais, criando um elemento linear de fechamento, que também funciona como elemento de proteção climática. O acesso da residência ocorre por meio de uma rampa apoiada pelo conjunto de um pilar e uma viga em forma de “T”, além do detalhe presente no vão em balanço da garagem.
Percebe-se uma rica diversidade de revestimentos e texturas que ainda possuem sua tonalidade original. Entre os revestimentos pode-se destacar o uso de: pastilhas, azulejos de diferentes cores e texturas, pedras e pisos de madeira.
DIMENSÃO FORMAL
A Residência Heleno Sabino foi resolvida basicamente em um único volume compacto, onde se observa adições e subtrações volumétricas. Esse, delimita-se conforme o traçado urbano da calçada e lote, criando uma relação com o lugar, de modo imponente.
A mesma possui uma linguagem moderna, característica das construções que predominavam nas décadas de 1960 e 1970, na cidade; entretanto, a formalidade desse objeto destacou-se entre a produção de Geraldino Duda, uma vez que foge à tradicional ortogonalidade e linearidade de seus projetos, assumindo um desenho mais orgânico.
DIMENSÃO FUNCIONAL
Tratando-se da função pragmática do objeto, observa-se que apesar das reformas que foram identificadas ao longo dos anos, especificamente em 1990 e outra em 2015, o uso permaneceu sempre residencial, encontrando-se subutilizada há alguns anos.
Quanto a função sintática, pode-se dizer que a implantação do edifício favorece ao fácil reconhecimento deste na paisagem, tornando-se um referencial para os pedestres e veículos, identificando-o facilmente entre a bifurcação e a praça do trabalho. Sintaticamente, o objeto, seja pela sua formalidade, quanto localização central, ocupa um espaço de memória para população campinense, sendo rememorada como a “casa redonda”.
DIMENSÃO DA CONSERVAÇÃO
A edificação em sua grande parte encontra-se bem conservada, e as modificações que ocorreram não modificaram a significância da obra, nem a descaracterizou. Quanto aos danos, observa-se vários componentes danificados e que precisam urgentemente de reparos.
Danos de vandalismo, perda de material, trincas, fissuras são comuns de se perceber. Todavia, o mais preocupante são as infiltrações nos ambientes localizados abaixo da caixa de água, assim como nas proximidades das calhas. Esse último problema, se não tratado com urgência, continua a danificar a obra, podendo inclusive, danificar sua estrutura.
REFERÊNCIAS
DINIZ, D. Tectônica da modernidade: Desafios para a preservação da arquitetura moderna em Campina Grande-PB. XVI Congresso de Iniciação Científica da Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2019.
MENESES, C.; AFONSO, A. Documentação da arquitetura moderna residencial em Campina Grande, PB. Um estudo sobre as residências de Geraldino Duda na década de 1960. In: Simpósio Científico ICOMOS BRASIL, Belo Horizonte, 2017.
MENESES, C. As residências unifamiliares de Geraldino Duda. Um estudo sobre o morar em Campina Grande nos anos 1960. Trabalho de Conclusão de Graduação. Campina Grande, CAU/UFCG, 2017.