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MUSEU DE ARTE ASSIS CHATEAUBRIAND

Renato Aprígio Azevedo da Silva, 1974.

DIMENSÃO NORMATIVA

A edificação está implantada no Parque Evaldo Cruz, localizado próximo à demarcação do centro histórico de Campina Grande, que é tombado pelo IPHAEP, de acordo com o “Dec. 25.139 de 29 de Junho de 2004”. Contudo, o edifício não é preservado legalmente em nenhum nível.

 

Segundo o Plano Diretor de Campina Grande, Lei Complementar nº 003, de 9 de Outubro de 2006, a edificação que abriga a SECULT está inserido na Zona de Qualificação Urbana, que caracteriza-se por usos múltiplos, e tem como objetivo ordenar o adensamento construtivo, evitar a saturação do sistema viário e ampliar a disponibilidade de equipamentos públicos, espaços verdes e de lazer.

 

Ainda de acordo com a Lei Complementar nº 003 de 2006, são objetivos da Política Municipal do Patrimônio Cultural garantir que o patrimônio arquitetônico tenha usos compatíveis com a edificação e estabelecer e consolidar a gestão participativa do patrimônio cultural.

DIMENSÃO HISTÓRICA

Segundo o produtor cultural, Walter Tavares, foi através do prefeito Luiz Mota Filho, que Campina Grande foi incluída dentro de uma organização centralizada pela Companhia Pró Desenvolvimento de Campina Grande (COMDECA), liderada pelo arquiteto Renato Aprígio Azevedo da Silva. No plano, os programas e investimentos seriam destinados a: Sistema viário, Centro Cívico, Pátio da Estação Velha; Avenida Canal e Museu de Arte.

 

Dentre os objetivos da primeira etapa de implantação do programa foi proposto a urbanização da bacia do Açude Novo e áreas de contorno, com a construção de equipamentos, dentre eles, o Museu de Arte Assis Chateaubriand/MAAC, que atualmente abriga a sede da Secretaria Municipal de Cultura/SECULT.

 

A construção do edifício visava a realocação do acervo inicialmente abrigado no edifício do Grupo Escola Solón de Lucena e posteriormente encontrado em condições precárias na antiga Cadeia Pública Municipal.

 

Segundo Afonso (2018), o projeto arquitetônico foi realizado pelo arquiteto Renato Aprígio Azevedo da Silva, que nasceu em Campina Grande, em 1943 e faleceu em Recife, em 4 de abril de 1997.

 

Renato Azevedo contou com a assessoria de Chico Pereira, professor e artista plástico - então diretor do Museu de Artes Assis Chateaubriand (MAAC), que colaborou na idealização do novo prédio do museu que seria para abrigar o acervo Assis Chateaubriand, recebido pela prefeitura de Campina Grande , no ano de 1967.

 

Segundo Pereira Jr (1974, p. 06), tornou-se urgente o atendimento à solicitação da construção de um novo museu de arte, visto a precariedade das condições de arquivamento das obras no edifício da antiga Cadeia Pública Municipal.

 

Desse modo, a inclusão do Museu no projeto de urbanização do Parque do Açude Novo contribuiria com a proteção do acervo, visto a inadequação do espaço em que as obras estavam arquivadas, tornando-se ao mesmo tempo, equipamento cultural a ser utilizado pela sociedade.

 

Através da inserção da proposta no PLDI - Plano Local de Desenvolvimento Integrado, o prédio foi inaugurado em 1974, o edifício foi inaugurado em 31 de janeiro de 1976, através da Campanha Nacional dos Museus Regionais (CNMR), iniciada em 1965, idealizada pelo jornalista e empresário Assis Chateaubriand, paraibano, fomentador da cultura na região nordestina.

 

Conforme foi visto, a proposta original desenvolvida no início dos anos 70 do século XX era para abrigar o espaço de um Museu de Arte Contemporânea para a cidade - Museu de Arte Assis Chateaubriand/ MAAC - (AFONSO, 2018).

 

Contudo o uso não vingou, pois algumas soluções projetuais equivocadas, como as grandes esquadrias de vidro projetadas, não eram adequadas para o funcionamento de um Museu, pois permitiam uma entrada excessiva de luminosidade que prejudicava a conservação das peças ali expostas, sendo assim, o espaço reutilizado para abrigar a sede da Secretaria Municipal de Cultura/ SECULT.

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DIMENSÃO ESPACIAL

A área onde foi implantado o edifício da Secretaria de Cultura localiza-se no centro geográfico da área urbana da cidade, onde está situado o marco zero da cidade, o Parque Evaldo Cruz, conhecido popularmente, como Açude Novo.

 

Segundo Pereira Jr (1974, p.07) o local foi escolhido de acordo com a orientação planejada, localizado sobre o terreno elevado que envolve o leito seco do Açude Novo, facilitando o acesso dos usuários, ao mesmo tempo em que se destaca na paisagem, compondo os demais equipamentos propostos para o local.

 

De fato, a implantação do edifício em uma parcela do terreno que margeia a principal via da cidade, a Avenida Floriano Peixoto, facilita o acesso. Contudo, nos dias atuais, tal implantação foi muito prejudicada, devido à instalação do Terminal de integração na parte frontal da edificação, em uma área do parque- que tirou a visibilidade da obra em relação ao acesso principal da mesma. 

 

O edifício possui uma solução projetual racionalista, adotando uma planta modulada, com tramas bem ordenadas, espaços transparentes que criam diálogos entre o espaço interno do pátio com as demais dependências projetadas.

 

O arquiteto demonstrou na solução, uma preocupação entre o diálogo forma e função, acarretando em uma volumetria equilibrada, harmoniosa pelo uso acertado de soluções estruturais que marcam a obra tanto internamente, quanto externamente.

 

A planta baixa foi solucionada em formato circular, e possui um pátio interno que funciona como um jardim que além de criar um microclima agradável, contribui nas soluções climáticas de aeração e iluminação dos espaços.

 

O pátio interno vazado, cria uma integração entre todas as salas de exposições propostas para o projeto. Além de permitir a visibilidade direta para o obelisco simbólico do parque Evaldo Cruz.

 

Tal forma circular trouxe alguns problemas para a cobertura, que devido à grande quantidade de quedas de água, e à falta de detalhes construtivos adequados naquela época, criaram patologias como infiltrações causadas pela água das chuvas, que trouxeram problemas para os elementos estruturais, conforme será visto a seguir.

 

Observou-se que a configuração proposta foi a setorização dos espaços em três diferentes alas: social serviço, e apoio, que são conectadas pela circulação. Os ambientes que necessitam de uma privacidade maior como, administração, copa e despensa apresentam uma circulação em comum, privativa e independente da circulação geral.

 

Um dos grandes desafios, de fato, foi atribuído pela setorização dos ambientes em decorrência do formato projetual escolhido para o edíficio. Uma vez que o pátio circular distancia os ambientes e a integração se dá pelo seu perímetro.

Esboço do projeto
PĂĄtio interno do museu
Escada de acesso

DIMENSÃO TECTÔNICA

A edificação é composta por um sistema construtivo que adotou o concreto armado, que dominou a materialidade da obra, pois se encontra presente na estrutura em elementos como vigas, pilares, e lajes. Tal materialidade contrasta com o tijolo aparente das paredes, e com a pedra que foi utilizada na base do edifício. Nas peles do edifício foram usadas esquadrias com estrutura em madeira aparente, e folhas em vidro que conferiram leveza à volumetria brutalista.

 

Quanto à solução empregada para a cobertura, foi projetada uma grande laje única, que saca nas extremidades internas, criando uma sombra, protegendo os espaços internos contra as intempéries. Como revestimento do telhado circular foi empregado telhas cimentícias. As paredes internas que subdividem em módulos os espaços são de tijolos aparentes, contrastando com a pureza do concreto. Em relação ao piso foi utilizada a pedra bruta ou lajota cerâmica nos ambientes

DIMENSÃO FORMAL

A linguagem estilística adotada pelo arquiteto foi o brutalismo, onde a verdade construtiva ficou à mostra, e a materialidade da obra está caracterizada pelo uso do concreto aparente nos elementos estruturais de lajes, vigas e pilares; da pedra encontrada na região, que foi utilizada em formato irregular na base da edificação, criando planos ricos que dialogam com o concreto; da madeira presente no desenho das esquadrias, que possuem suas estruturas e madeira e folhas em vidro; do tijolo aparente, que fecham alguns trechos da pele da edificação (AFONSO, 2018).

 

Considerada marco representativo na modernidade brutalista campinense, a obra apresenta-se de modo intrinsecamente ligado à função dos elementos que a compõe. A riqueza das soluções projetuais e construtivas, a forma como os materiais são tratados, o uso intensivo do concreto aparente e tijolos aparentes, a valorização das superfícies e junções através das texturas brutas, revelam a essência e expressividade da obra.

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DIMENSÃO FUNCIONAL

A edificação originalmente abrigaria um museu, mas acabou servindo de sede para uma repartição pública que sedia a sede da secretaria de cultura municipal.

 

Os espaços tiveram que ser adaptados a novos usos, como setores administrativos, arquivos, um pequeno auditório, sala de funcionários e técnicos, baterias sanitárias - que iniciaram as descaracterizações internas, com fechamentos inadequados de paredes e colocações de novas divisórias.

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DIMENSÃO DA CONSERVAÇÃO

Afonso (2019) analisou a conservação dessa obra, apontando para dois pontos cruciais na análise da obra:

1_ de ordem de gestão da edificação;

2_de ordem de conservação física da mesma e suas patologias decorrentes destes anos de existência. E claro, sabendo-se que ambas se relacionam diretamente, pois uma má gestão prejudica diretamente a conservação física da obra.

 

Quanto à questão de gestão do edifício, observou-se que o cargo para secretariar a instituição, geralmente vem sendo ocupado por políticos, e não por técnicos e profissionais da área cultural, ou correlata- o que dificulta o processo de conservação, pois estas pessoas não possuem formação na área.

 

Além de infelizmente possuírem pouca sensibilidade para entender a importância de se intervir de forma correta neste bem patrimonial. Não priorizam a manutenção constante da edificação, em seu conjunto construtivo, de espaços internos, externos, fachadas, e cobertura.

 

No que diz respeito à conservação física da edificação, pode-se constatar, após analisar-se o edifício no que é referente, principalmente, às patologias do patrimônio arquitetônico moderno, e à sua tectônica, os seguintes pontos que abaixo, são listados:

 

  1. Antes de tudo esclarece-se aqui, que o estudo realizado foi elaborado através de FIDS/ Fichas de identificação de danos, que detalhadamente analisou cada patologia existente na obra.

  2. O sistema construtivo adotado em concreto armado possui uma vida útil que pode alcançar até cinquenta anos, contudo necessita de manutenção rigorosa. De acordo com NBR 6118 (2003) que trata dos procedimentos para projeto de estruturas de concreto – o material exige para seu bom desempenho, uma série de cuidados que devem ser realizados para a prolongação da vida útil do material. Observou-se que no caso em estudo, a água da chuva foi o fator atmosférico que mais atingiu à durabilidade do concreto e através de soluções inadequadas de controle da água, problemas de vazamentos, infiltrações em lajes, calhas, geraram corrosões no aço do concreto armado, comprometem demasiadamente a edificação.

  3. A cobertura não recebe a manutenção adequada, ou seja, a limpeza de calhas, reparos de telhas: serviços que praticamente não são realizados com frequência, o que vem trazendo infiltrações, manchas de mofos e fungos. Além de elementos parasitários, como caixas de condicionadores de ar, exaustores, antenas, fiações, que são ali colocadas de qualquer forma, sem se preocuparem com detalhes de uso, que prejudicam bastante a cobertura.

  4. Outra patologia que trouxe um sério problema ao edifício foi o fechamento indevido do acesso posterior ao edifício que se dava acesso ao exterior, realizado através de uma escada helicoidal. O entaipamento da escada tornou a área isolada e marginalizada: os pichadores e usuários de drogas vêm utilizando o lugar de forma errônea, com danos ao patrimônio, estando toda esta fachada posterior bastante danificada. Permitir o diálogo entre interior e exterior através da escada helicoidal que foi brutalmente gradeada, isolando a permeabilidade, seria o ideal para revitalizar esta área, podendo criar ali um prolongamento espacial do interior. Contudo seria necessário, de certa forma, delimitar o espaço público do privado- o que é lastimável, mas necessário- e procurar solucionar a segurança desta área externa, que atualmente está descontrolada e entregue às vândalos.

  5. A falta da educação patrimonial da sociedade, em relação à preservação dos espaços públicos, abertos, em nossa região é um problema: tais áreas acabam sempre sendo ocupadas indevidamente e subutilizadas. A falta de segurança da edificação, sem iluminação, sem um limite físico, vem prejudicando o uso e a conservação da edificação.

 

Tais problemas que estão presentes nessa obra, se faz chegar à conclusão que a conduta a ser adotada, de acordo com laudos de vistoria elaborados apoiados em Tinoco (2009), deve ser uma restauração imediata da estrutura do edifício moderno, dando atenção especial aos problemas existentes na cobertura, a fim de se frear a degradação e evitar o colapso estrutural, além da necessidade de se intervir na segurança do imóvel, com o intuito de evitar as contínuas e indesejadas pichações ao bem.

 

Observa-se a necessidade em se educar patrimonialmente, em sensibilizar os cidadãos, não apenas à sociedade, mas principalmente, técnicos e gestores municipais, que são os responsáveis pela conservação dos edifícios públicos.

 

A obra moderna e brutalista em pauta apresenta um projeto arquitetônico exemplar, sob o ponto de vista tectônico, espacial, funcional e formal mesmo tendo abrigado um novo uso ao longo dos anos, que sua planta modulada e racional possibilitou de forma a não afetar a estrutura espacial.

 

Contudo, necessita ser valorizado por seu proprietário, o município; por seus usuários, a população que trabalha e usufrui da Secretaria de Cultura. Um edifício que abriga a sede das discussões culturais no município deve dar o bom exemplo, ao ser conservado por seus próprios usuários e gestor

SECULT
SECULT

REFERÊNCIAS

AFONSO, A. Conservar já! Documentar sempre. Patologias da tectônica da modernidade arquitetônica. Estudo de caso em Campina Grande. PB. Salvador: 13º seminário do DOCOMOMO Brasil.2019.

 

AFONSO, A. et al. Observações sobre as patologias do patrimônio arquitetônico moderno: análise e reflexão da preservação em obra moderna de Campina Grande, Paraíba. ICOMOS Brasil. 2º Simpósio científico. 2018.

 

NBR 6118: projeto de estruturas de concreto; procedimentos. Rio de Janeiro, 2003, 170 p.

 

PEREIRA Jr. F. Ação cultural de edificações urbanas no programa trienal 1974/1976. Campina Grande, MAPE - Museu de Artes Plásticas da Universidade Regional do Nordeste, 1974.

 

Plano Diretor de Campina Grande, Lei Complementar nº 003, de 9 de Outubro de 2006. Prefeitura municipal de Campina Grande. 2006.

 

TINOCO, J. Mapa de danos. Recomendações básicas. Recife: CECI/MDU. 2009.

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