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EDIFÍCIO AGOSTINHO VELLOSO DA SILVEIRA
SEDE DA FIEP/SESI/SENAI

Cydno da Silveira, 1983.

DIMENSÃO NORMATIVA

A edificação em pauta, apesar de seu valor arquitetônico, histórico e cultural, não é preservada por lei patrimonial em nenhum dos níveis.

DIMENSÃO HISTÓRICA

Através das placas existentes na própria edificação, foram coletadas informações históricas importantes sobre a história da obra, onde está colocado que a construção do edifício só se tornou possível graças à ajuda de muitos, especialmente dos senhores Domício Velloso da Silveira e Albano do Prado Franco, ex-presidente e presidente da Confederação Nacional das Indústrias/ CNI na época da inauguração, em terreno doado pelo então prefeito, Enivaldo Ribeiro.

 

A força da FIEP sempre foi tanta, que na inauguração do edifício em 24 de setembro de 1983, estiveram presentes autoridades federais como o Ministro do Trabalho, Murillo Macedo; o Ministro do Interior Mario David Andreazza; o presidente da CNI, o senador Albano do Prado Franco; além de autoridades estaduais como o governador da Paraíba, Wilson Leite Braga; o prefeito de Campina Grande, Ronaldo Cunha Lima; entre outras autoridades.

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DIMENSÃO ESPACIAL

O terreno está localizado na extremidade nordeste do Açude Velho, um dos cartões postais da cidade.

 

Seu formato é irregular, e delimita-se com a Avenida Manoel Guimarães, com a Rua João Florentino de Carvalho, com a Rua Almirante Tamandaré e com a Rua Campos Sales.

 

O acesso principal é realizado pela Avenida Manoel Guimarães, que surge da convergência – em uma rotatória – entre a BR 104 e a BR 230, os dois principais acessos à cidade, conforme colocou Cotrim (2011) em seu texto.

 

O agenciamento paisagístico da obra desperta interesse pelo desenho dos planos criado pela distribuição de pisos, que dialogam com os espelhos de água, e com o gramado, que criou uma ambiência muito agradável a todo o conjunto, pela beleza de sua solução paisagística.

 

O acesso principal ao edifício é realizado através de uma guarita que possui um desenho arrojado em concreto armado, e que possui um piso que foi prolongado até o edifício, e a partir de um trecho torna-se uma passarela que se sobrepõe ao espelho de água: uma solução elegante que denotou a preocupação da equipe projetual com os detalhes da obra.

 

Quanto à solução do programa em planta, esta foi resolvida em uma planta em formato de L, com angulação obtusa, distribuída em pilotis mais seis pavimentos.

 

Apenas no pavimento térreo, que se trata do pilotis, há um volume mais baixo destinado ao auditório, que possui um formato protopiramidal, e se acopla abaixo da laje do pilotis, criando um dinamismo plástico em planta e em volumetria.

 

O espaço do pilotis conferiu uma permeabilidade visual entre área externa e interna, além de proporcionar a mostra da solução estrutural adotada: um espaço ventilado, integrado e receptivo aos demais pavimentos, que funciona como uma praça coberta.

 

Vale à pena ressaltar aqui, que a solução adotada arquitetonicamente nos remete à obra do Palácio do Itamaraty, de autoria de Oscar Niemeyer em Brasília, tanto em soluções espaciais, quanto tectônicas, conforme corroborou Cotrim (2011) em sua análise.

 

A solução da lâmina do pavimento tipo, que possui uma área aproximada de 600 metros quadrados adotou uma planta livre, com uma estrutura independente dos fechamentos dos ambientes- um dos princípios norteadores da modernidade divulgada por Le Corbusier, que permite a flexibilidade dos layouts em distintos e possíveis usos espaciais.

 

A circulação vertical foi resolvida de maneira racional, distribuída adequadamente em blocos que aperfeiçoam a distribuição dos fluxos aos pavimentos. Também, a solução racionalista em blocar usos, foi empregada na distribuição do bloco sanitário nas plantas dos pavimentos

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DIMENSÃO TECTÔNICA

A estrutura de suporte adotou o sistema construtivo em concreto aramado, e foi modulada, em dois tipos de módulos:

1) distribuídas em seis espaçamentos modulares maiores em um trecho da planta;

2) em quatro módulos menores a partir da angulação da planta.

 

Essa modulação é sistemática, compõe a configuração da plasticidade da volumetria, pois fica aparente e presente nas fachadas, tanto em vigas que delimitam os sete pavimentos, quanto nos pilares.

 

Sobre essa solução que deixa à mostra nitidamente a relação arquitetura/estrutura, a verdade construtiva- Mahfuz (2003, p.69) escreveu: “Em uma arquitetura que aspira a autenticidade, os edifícios são o que são, e não o que aparentam ser.”

 

Torna-se necessário também, reforçar aqui, uma reflexão a cerca da obra da FIEP- considerando seu valor tectônico, e para tanto, Sekler (1965) que definiu o termo tectônica como o único adequado a descrever uma expressão das relações entre forma e força estática da construção.

 

Quanto às peles da edificação, foram usados fechamentos em placas pré-moldadas de concreto aparente nas fachadas norte e sul; panos de esquadrias de vidro com alumínio na fachada norte e cobogós cerâmicos na fachada sul. Tais materiais se harmonizam e dialogam entre si, criando uma solução equilibrada.

 

A cobertura recebeu um tratamento que criou um destaque na composição da obra, segundo colocou Cotrim (2011):

O tratamento dado à cobertura se destaca no conjunto: uma laje de menor dimensão determina uma zona descoberta de terraço-jardim enquanto acolhe a outra parte diferenciada do programa, destinada originalmente a um restaurante, e que mais tarde se converteu em espaço para eventos e reuniões mais restritas. Volumetricamente, o resultado é uma espécie de coroamento do conjunto, marcado por uma linha horizontal que serpenteia levemente em pontos determinados. (COTRIM, 2011, s/p)

Quanto aos detalhes construtivos, estes estão presentes nas soluções estruturais dos pilares do pilotis com suas formas diferenciadas em V curvados; nos paineis projetados pelo artista plástico Athos Bulcão (presentes no sexto pavimento); nos cobogós cerâmicos, especialmente desenhados para o edifício; no desenho arrojado da guarita; na passarela de acesso que atravessa de forma suspensa o espelho de água, entre outros- que denotam a atenção de Cydno e sua equipe no desenvolvimento dessa obra.

 

No que diz respeito aos revestimentos e texturas, o concreto domina toda a composição da obra e está presente tanto nos elementos do volume principal, quanto no do auditório, que recebeu um tratamento mais rústico. O concreto dialoga com o vidro, que forma o grande pano de revestimento da fachada principal, deixando à mostra a solução estrutural da edificação.

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DIMENSÃO FORMAL

A linguagem arquitetônica adotada na obra da FIEP foi o brutalismo, e de acordo com Frampton (1995, p. 360), o brutalismo está relacionado também com a tectônica, podendo ser considerado como uma retomada desta cultura, pois a arquitetura brutalista demonstra um claro retorno à expressão da estrutura e da construção.

 

Para maior aprofundamento ao tema do brutalismo, recomenda-se aqui, um texto de Zein (2007) que tratou do "Brutalismo, sobre sua definição", que deve ser utilizado como aporte teórico nessa discussão.

 

Retomando-se à análise, observou-se que a dimensão formal está diretamente vinculada à dimensão tectônica do edifício, ou seja, constatou-se uma atenção com os detalhes estruturais, construtivos, que se articulam com os materiais e junções, promovendo a realização de uma obra brutalista refinada e bem elaborada.

 

A forma como os materiais são tratados na arquitetura brutalista, a exposição de partes e arremates, a busca por uma honestidade construtiva, a utilização dos materiais brutos, a evidenciação do processo construtivo são características presentes na obra em pauta.

 

Importante ainda frisar que a solução projetual, construtiva, estilística resultou em certa monumentalidade, também citada no texto de Cotrim (2011) e referenciada em artigo de Afonso (2014) quando tratou de obras brutalistas realizadas no Piauí, que também adotaram o brutalismo, para reforçar a ideia de poder, relacionada à arquitetura.

 

A monumentalidade formal, volumétrica, plástica do edifício da FIEP foi adotada, sem dúvida, para demonstrar a força, a pujança, o desenvolvimento das indústrias na cidade de Campina Grande naquela época, conforme foi visto anteriormente.

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DIMENSÃO FUNCIONAL

A edificação principal composta pelo grande bloco articulado com um volume de auditório, não sofreu mudanças de uso ao longo dos anos, e tem mantido a sua função em sediar a Federação das Indústrias da Paraíba, abrigando ali, sedes dos distintos sindicatos, com um programa de necessidades, que confere ao edifício um bom funcionamento.

 

Infelizmente, em uma das extremidades do terreno- foram construídos alguns anexos, que não se relacionam com a arquitetura da edificação principal, mas também, não chegam a comprometer a qualidade da mesma, pois foram mantidas distanciamentos.

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DIMENSÃO DA CONSERVAÇÃO

Pode-se observar que a edificação encontra-se bem conservada, apesar de não possuir nenhuma proteção legal, enquanto uma obra de bastante valor e representatividade para o acervo do Estado da Paraíba.

 

Alguns elementos parasitários vêm sendo colocados no pavimento térreo, na parte posterior da edificação, como uma estrutura desmontável em alumínio com toldos brancos- que serve de apoio aos eventos ali realizados.

 

Acredita-se que devido ao seu valor arquitetônico, construtivo, histórico e simbólico, mereceria uma proteção em nível estadual.

REFERÊNCIAS

AFONSO, A. El diálogo entre tectónica y la reconsideración de la Modernidad como enfoque teórico en la Arquitectura Contemporánea. Xalapa, Veracruz: Revista RUA, ano 11, número 22, Julho - Dezembro 2019.

 

AFONSO, A. Arquitetura brutalista no Piauí nos anos 1970. Arquitextos, São Paulo, ano 15, n. 174.02, Vitruvius, dez. 2014 Acesso em: 04 de junho de 2020.

 

COTRIM, M. Clareza compositiva e a herança moderna brasileira. O caso do edifício da FIEP em Campina Grande. Arquitextos, São Paulo, ano 11, n. 130.04, Vitruvius, mar. 2011 .

 

Cydno da Silveira em depoimento publicado na revista Módulo Especial, n.01, mar. 1981.

 

FRAMPTON, K. Studies in Tectonic Culture. Cambridge, Massachusetts: The MIT Press, 1995.

 

MAHFUZ, E. Reflexões sobre a construção da forma pertinente. Arquitextos, São Paulo, ano 04, n. 045.02, Vitruvius, fev. 2004 . Acesso em 2 de junho de 2020.

 

SEKLER, E. Structure, construction, tectonics. In: KEPES, Gyorgy (Org.). Structure in art and in science. Nova York: George Braziller, 1965, p. 89-95.

 

ZEIN, R. Brutalismo, sobre sua definição. In Arquitextos Vitruvius, 084, São Paulo, Portal Vitruvius, fev. 2005 ; Acesso em 1 de junho de 2020.

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